TEXTO 4 – O trabalho como mercadoria: alienação
No século XIX,
o resplendor do sucesso alcançado pela Revolução Industrial não oculta a
questão social. A exploração dos operários fica explícita em extensas jornadas
de trabalho em péssimas instalações, salários baixos, arregimentação de
crianças e mulheres como mão de obra mais barata. Esse estado de coisas
desencadeou os movimentos socialistas e anarquistas.
Nesse
panorama, Karl Marx (1818-1883) retoma a temática hegeliana ao ver o trabalho
como condição de liberdade. É pelo trabalho que o ser humano se confronta com
as forças da natureza e, ao mesmo tempo em que a modifica, transforma a si
mesmo, humaniza-se.
No
entanto, Marx nega que a nova ordem econômica do capitalismo fosse capaz de
possibilitar a igualdade entre as partes, porque o trabalhador perde mais do
que ganha, já que produz para outro:
a posse do produto lhe escapa. Nesse caso, é ele próprio que deixa de ser o
centro de si mesmo. Não escolhe o salário – embora isso lhe apareça ficticiamente
como o resultado de um contrato livre -, não escolhe o horário nem o ritmo do
trabalho e é comandado de fora, por forças que não mais controla.
O
resultado é a pessoa tornar-se “estranha”, “alheia” a si própria: é o fenômeno
da alienação.
Há
vários sentidos para a palavra alienação. Em todos eles, há algo em comum: do
ponto de vista jurídico, perde-se a posse de um bem; para a psiquiatria, o
alienado mental perde a dimensão de si em relação com os outros; segundo
Rousseau, o poder do povo é inalienável, porque só a ele pertence; na linguagem
comum, a pessoa alienada perde a compreensão do mundo em que vive.
Alienação na produção
Para Marx, que
analisou esse conceito básico, a alienação não é puramente teórica, porque se
manifesta na vida real quando o produto do trabalho deixa de pertencer a quem o
produziu. Isso ocorre porque na economia capitalista prevalece a lógica do
mercado, em que tudo tem um preço, ou seja, ao vender sua força de trabalho
mediante salário, o operário também se transforma em mercadoria. Ocorre então o
que Marx chama de fetichismo da
mercadoria e reificação do
trabalhador. Vejamos o que significam esses conceitos.
·
O fetichismo
é o processo pelo qual a mercadoria, um ser inanimado, adquire “vida”
porque os valores de troca tornam-se superiores aos valores de uso e passam a
determinar as relações humanas, ao contrário do que deveria acontecer. Desse
modo, a relação entre produtores não se faz entre eles próprios, mas entre os
produtos do seu trabalho. Por exemplo, não são relações entre alfaiate e
carpinteiro, mas entre casaco e mesa, que são equiparados conforme uma medida
comum de valor.
·
A reificação
é a transformação dos seres humanos em coisas. Em consequência, a
“humanização” da mercadoria leva à desumanização da pessoa, à sua coisificação,
isto é, o indivíduo é transformado em mercadoria.
A alienação
não se aplica apenas à produção do trabalhador, mas também às formas do
consumo, como veremos mais adiante.
TEXTO 5 – A era do olhar: a
disciplina
Outros
pensadores investigaram as mudanças decorrentes do capitalismo e do nascimento
das fábricas, analisando-as sob outro ângulo, o da instauração da era da disciplina.
Segundo Michel Foucault, um novo tipo de disciplina facilitou a dominação
mediante a “docilização” do corpo.
Para
exemplificar, vamos voltar à França do século XVIII. A historiadora francesa
contemporânea Michelle Perrot, relata a descrição feita por um inspetor de
manufaturas de uma oficina têxtil com cerca de 100 metros de comprimento,
pavimentada por lajes e iluminada por cinquenta janelas com tela branca:
“No meio dessa sala (em) um canal coberto com
lajes entreabertas cada fiandeira vai, em silêncio, tirar a água de que precisa
(para a fiação). Essa oficina, à primeira vista, surpreende o visitante pela
quantidade de pessoas aí empregadas, pela ordem, pela limpeza e pela extrema
subordinação que aí reina... Contamos 50 rocas duplas (...) ocupadas por 100
fiandeiras e o mesmo tanto de dobradeiras, tão disciplinadas como tropas.”
Nos trechos em
itálico, a historiadora destaca a nova maneira de trabalhar, representada por
dois modelos disciplinares: o religioso (o silêncio) e o militar (hierarquia,
disposição em fileiras). A disciplina é mantida pelos supervisores, que avaliam
a qualidade do serviço, evitam brigas e fazem cumprir os severos regulamentos
por meio de proibições (não falar alto, não dizer palavrões, não cantar),
regras de horários (começa a “tirania” do relógio para entrada, saída e intervalo)
e ainda penalidades como multas, advertências, suspensões, demissões, de acordo
com a gravidade da “falta”.
Na
nova estrutura, o “olhar vigilante” sobressai de maneira decisiva. A
organização do tempo e do espaço imposta na fábrica não é, porém, um fenômeno
isolado. Nos séculos XVII e XVIII, formou-se a chamada “sociedade disciplinar”,
com a criação de instituições fechadas, voltadas para o controle social, tais
como prisões, orfanatos, reformatórios, asilos de miseráveis e “vagabundos”,
hospícios, quartéis e escolas.
Para saber mais: A escola
institucionalizou-se de maneira mais complexa quando foram criados os
internatos, com a exigência de separação por idades, graduação em anos e
organização de currículos.
Esses
métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam
a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as
“disciplinas”. ?Muitos processos
disciplinares existiam há muito tempo[..]. Mas as disciplinas se tornaram no
decorrer dos séculos XVII e XVIII formulas gerais de dominação. O momento
históricos das disciplinas é o movimento em que nasce uma arte do corpo humano,
que visa não unicamente o aumento de suas habilidades ,nem tampouco aprofundar
sua sujeição, mais a formação de uma relação que no mesmo Mecanismo o torna
tanto mais obediente quanto mais útil, é inversamente A disciplina fabrica
assim corpos “dóceis”
A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesma forças (em termos políticos de obediência.
A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesma forças (em termos políticos de obediência.